Monday, March 30, 2009

Postais da Crise - Andamentos


























[All photographs © by M. João: all rights reserved]
Mozart - Concerto No. 26








Larghetto






Allegretto

Em 2001 cravaram isto no saibro de Serralves. Diverte-me e assusta-me esta “Colher de Jardineiro” de Oldenburg e Van Bruggen, com mais de 7 metros de altura. Logo adiante, começa a alameda de liquidambares. Essa transmite-me segurança e alheia-me da crise.
A intervenção irónica daquele objecto do quotidiano na entrada do parque atribuiu ao sítio uma marca. E apostou no “claim” que este espaço reconfigurado propôs ao turismo: “Arte e Paisagem numa visão contemporânea”.


Adiante, a antiga alameda, numa majestade sem concessões acrílicas, cumprimenta-nos com reverência. E sentimo-nos respeitados pela Terra. As suas árvores parecem estar ali para nos orientar, seguindo a melodia que o pontilhado de buxo introduz nos nossos passos. O ritmo “andante” do seu desenho prossegue no “allegro” das altas ramagens, no “allegretto” das suas folhas nascendo e no “larghetto” da sua queda.


¡ Basta ! Alguém achou que seria contemporânea a atitude de plantar ali uma ferramenta !
Pensando… pensando, pensando bem, achei o mesmo na ocasião.
A “Colher” era um assomo da arte e da irreverência pop. Aliás, estava perfeita em todos os detalhes e tornou-se o emblema desse espaço de lazer.


Hoje, pensando melhor, parece-me que só alguns entenderiam se tivesse sido uma árvore o objecto escolhido como símbolo deste lugar.
E, para os que não se deixem subjugar pelos apelos do parque, sugiro que ouçam os dos andamentos, de “Largo” a “Prestissimo”, duma peça musical. Se não acederem a um concerto ao vivo, será fácil ouvi-los em qualquer MP3, youtube, ou blog.
Esta passou a ser a natureza contemporânea das coisas.


Maria João

1 comment:

mj said...

Pois é Júlia. Aposta-se numa marca e finge-se que se é ambientalista. Claro que o Parque engloba um Museu e aí a intenção (quase) se compreende.