Thursday, May 7, 2009

Postais da Crise - Rosto
















[All photographs © by M. João: all rights reserved]

O rosto da crise, da festa, do ano. O rosto da dor, do júbilo, do dano.
Rostos andinos e árabes. Asiáticos e africanos.
Rostos mais ou menos latinos ou caucasianos.
Malares salientes ou recolhidos, queixos proeminentes e reentrantes.
Cabelos lisos ou encaracolados, bocas finas e carnudas.
Olhos encovados ou projectados. Reflectindo a idade.
Bocas que aclamam, lábios encrespados, dentes à vista ou cerrados.


Mas não. Não é só isso.
São risos abertos ou ocultos, perplexidades, espantos, sustos.
Apanham-se os esgares no ecrã, melhor do que à vista.
Dir-se-ia que fazem poses.


Mas não. Não é bem isso.
É a mediação da filmagem, a de um fragmento de instante, algo que não captamos quando conversamos com um rosto. Porque toda a cabeça e o corpo se agitam, com a transmissão eléctrica pelo pescoço. De ondas, ordens e contra-ordens que não deixam quieto o sujeito.
Tão imóvel na foto, tão límpido no seu semblante. Parece, até, dono do seu drama.


Mas não. Nada disso.
É o engano da razão, de quem não sabe apreciar, de quem não consegue perceber para lá do olhar, do ouvir, do cheirar, do saborear e do tactear.
É algo mais a entender que não está lá.
Fiquemos então por aqui.


Maria João

2 comments:

PortoCroft said...

mj,

"É algo mais a entender que não está lá." ou está? Está! :grin:

Se os olhos são o espelho da alma. O rosto é o mapa da vida.

mj said...

Não posso contradizê-lo. As minhas certezas são mínimas. Limito-me, há anos, a tentar entender algumas (poucas) coisas, entre elas rostos. E, por sinal, até que o seu é bem enigmático :)