O rosto da crise, da festa, do ano. O rosto da dor, do júbilo, do dano. Rostos andinos e árabes. Asiáticos e africanos. Rostos mais ou menos latinos ou caucasianos. Malares salientes ou recolhidos, queixos proeminentes e reentrantes. Cabelos lisos ou encaracolados, bocas finas e carnudas. Olhos encovados ou projectados. Reflectindo a idade. Bocas que aclamam, lábios encrespados, dentes à vista ou cerrados. Mas não. Não é só isso. São risos abertos ou ocultos, perplexidades, espantos, sustos. Apanham-se os esgares no ecrã, melhor do que à vista. Dir-se-ia que fazem poses. Mas não. Não é bem isso. É a mediação da filmagem, a de um fragmento de instante, algo que não captamos quando conversamos com um rosto. Porque toda a cabeça e o corpo se agitam, com a transmissão eléctrica pelo pescoço. De ondas, ordens e contra-ordens que não deixam quieto o sujeito. Tão imóvel na foto, tão límpido no seu semblante. Parece, até, dono do seu drama. Mas não. Nada disso. É o engano da razão, de quem não sabe apreciar, de quem não consegue perceber para lá do olhar, do ouvir, do cheirar, do saborear e do tactear. É algo mais a entender que não está lá. Fiquemos então por aqui. Maria João |
2 comments:
mj,
"É algo mais a entender que não está lá." ou está? Está! :grin:
Se os olhos são o espelho da alma. O rosto é o mapa da vida.
Não posso contradizê-lo. As minhas certezas são mínimas. Limito-me, há anos, a tentar entender algumas (poucas) coisas, entre elas rostos. E, por sinal, até que o seu é bem enigmático :)
Post a Comment