As últimas semanas - quase que poderia dizer meses - têm-se sucedido a um ritmo frenético. Já passou mais de um mês desde que regressei de Toronto, e não obstante a vontade de tornar a um espaço que cumpre, amiúde, uma função quase catártica, a verdade é que sinto que o tempo que habito se está a tornar infinitamente mais curto, como que se submetido a um processo que mimetiza, de forma exponencial, o normal movimento planetário rumo a um novo solstício invernal. Na maior cidade canadiana reencontrei velhos conhecidos de caminhos que trilho há já alguns anos. Os motivos que lá me conduziram não são de agora. Apenas o destino varia. Releio uma passagem: “ the new Technologies for keeping patients alive – the IV lines, feeding-tubes, and mechanical ventilators – could also trap them in the shadowy realm between life and death ” . Estranho ser confrontado com tamanha evidência a caminho de uma reunião científica de oncologia. Mais estranho ainda quando, uma das pessoas com quem tive o grato prazer de travar conhecimento e mais tarde jantar na CN Tower de Toronto, um jovem colega e investigador brasileiro da Universidade de S. Paulo, veio a falecer há cerca de uma semana, com complicações respiratórias decorrentes de uma infecção com o vírus H1N1, após 2 semanas de coma induzido. Desde então busco avidamente um pouco de tempo para reflectir sobre reencontros, uniões, momentos simples entre amigos, livros que li, leio, músicas que alegram o dealbar de novos dias ou que reflectem a síntese de outros. Minhas mãos são instrumentos impotentes na tentativa vã de abrandar ao ritmo alucinante da passagem destes dias de Estio. O regresso, ainda que breve, à minha querida Amesterdão, cidade que considero cada vez mais uma espécie de segunda casa providencia um breve interregno que me permite olhar a periferia dos dias me trazem envolvidos. Jantar breve, mas não apressado, no centro da cidade, olhando um dos canais e as mulheres e homens que passam, sozinhas - porventura sem estarem sós - ou acompanhadas – porventura na sua já crónica solidão. Uns e outros desfrutando de uma noite não excessivamente quente, onde sopra um vento leve que parece acariciar a cútis, talvez vaticinando a intimidade de outros ventos. Quanto a mim retorno ao Hotel. [Rui Amaral Mendes] | |
Rui Amaral Mendes, aqui e no Frágil |
Thursday, August 27, 2009
Frenético...
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1 comment:
Um texto forte que suscita pensamentos sobre o início e o fim, o cá e o lá da vida.
Aqueles sentimentos dos que estão ainda bem vivos.
Em lugares, em sonhos, em desejos, em Toronto, no Porto, Amsterdão.
Haverá pensamentos desses nos que estão em coma, real ou imaginário?
A vigília da vida é tão complexa.
Pouco sabemos dela.
Bom regresso Ram
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