Ensinaram-me a ter fé em pequena. Que dilema. Detenho-me, vezes sem conta, sobre postais de cenas urbanas do início do séc. XX. E não perco as reportagens televisivas sobre a nostalgia do tema. Porque me contaram maravilhas da vida nesses anos. Os pais e os avós, claro. Que tudo era ordeiro e respeitável. Que o tempo era mais vagaroso. Que se passeava nas ruas sem que os carros nos viessem azucrinar os ouvidos. Que os meninos brincavam, bem comportados, nos jardins de belas casas. Que os moleques não se aproximavam. Ter tanto prazer nesta calma devia ser um engano, pensava eu. Alguma coisa me escapava… (Já então me aborrecia de morte nas manhãs de domingo… à espera). Finalmente, percebi que tudo era sorrateiro. Uma palavra mágica que me abriu as portas do mundo. Tudo se passava sorrateiramente! Afinal era isso. Tão simples e tão vulgar. Nada fora ordeiro e respeitável. O tempo desses tempos era atabalhoado, como os dias do cuco no relógio. De repente, o bichano saltava cá para fora a fingir que estava certo, mas passava o tempo distraído, sem se ralar com as horas. Os meninos e os homens eram mal comportados, as casas sujas e decrépitas e a gentalha invadia as intimidades, quase tanto como faz na net. Hoje, desconfio sempre do que vejo nas reportagens, como passei a desconfiar, outrora, do que ouvia na telefonia e do que lia nas revistas ilustradas. Balelas, lérias, tretas. Tudo era mais ou menos igual ao que é agora. Ou, antes, tudo é uma tremenda neura enquanto não crescemos. E depois, ainda piora. Maria João |
2 comments:
:) afinal não sou só eu que penso isso :)
O RGervais parece demasiado cretino :) , mas o Bruno Aleixo e comparsas são divertida e horrorosamente surrealistas :)
Sabe se são adaptação de algum humor britânico?
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